sexta-feira, 27 de março de 2015

O SILÊNCIO DE BECKER

Le trou - O Buraco (1960) de Jacques Becker.

Venderam-me o bilhete errado. Tinha comigo que ia ver O Rei da Comédia nessa noite. Depois de um copo, estava pronto para me afastar do meu dia engomado. Fui agarrado pelo Bénard da Costa que à cabeça da sessão dialogava sobre a gravidade que o filme transportava. Fiquei. E descobri Becker graças a ele.

Descobri que que o que não é incluído é igualmente notável em comparação com o que é incluído.

Não se conhecem estes homens, nem o que fizeram para ali estar. Não existem fora dali. Mas isso diz tudo sobre eles e sobre quem os filma. O que é externo ao ser, não deveria existir, deveria ser indiferente. Mas ali, vive-se a lei natural e as peças encaixam-se naquele universo. O problema, é que estes homens se deixam escravizar pelos seus desejos - que estão fora dali. Acorrentados, não a um sítio como se poderia pensar, mas a uma ideia - não vivem. Não foi o que disseram que me fez chegar a isso, nunca é. Aliás, pouco dizem sobre o que pensam ou são. Foi como se comportaram. Como se movimentaram pelos túneis escuros em busca da clareza.

O problema é que a tona do mundo, não é sempre iluminada. É escura, excepcionalmente. Não pensaram nunca que ficar debaixo do chão e existir apenas, poderia não ser mau.