Caminhos Mal Traçados (1996) de Alexander Payne |
Parece-me necessário ter fortes entranhas para se chegar a um filme destes. Caminhar nesta linha do quase ódio a um personagem e não descair uma única vez é um trabalho de contenção. Existe quase sempre uma tendência da maioria das pessoas, em escrever e trabalhar personagens que se amam num primeiro encontro. Desafiá-lo e criar esta Ruth, que nem eu, nem ninguém seria capaz de levar para casa, transforma o filme numa coisa ácida. É um horizonte muito pouco claro, obscuro. Ir em passos firmes, passando por todo este nevoeiro que quer corromper a genuínidade desleixada, suja, despreocupada desta pessoa, até ao momento em que o filme se encerra, é fabuloso. É deixar que ela viva, exista e seja quem é, sem filtros. É escrever a roçar o real.
Fez-me lembrar outro filme. Dark Horse do Todd Solondz, tenta passar pelo mesmo território. O problema é parece que existe um desdém, um apontar de dedo constante ao seu personagem. É um "Metes-me nojo" constante. Isso corrompe-o, tornando-o num filme completamente repugnante.
Há tempos alguém me gritou, que tem de se amar verdadeiramente quem se escreve, sem insolência. Seja ele um cabrão ou um bem-aventurado. Percebe-se sempre a diferença.
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